Este registo tem este nome porque, quando as cordas vocais se encontram na sua posição de maior tensão (mais esticadas para as notas agudas) o som viaja até à cavidade nasal onde se amplifica. Aí sentimos a vibração do som na máscara (cara) e no crânio.
Este registo é a parte mais aguda da nossa voz, um conjunto de notas com alta frequência que muitas vezes quando iniciamos o Canto nem sequer conhecemos ou temos ideia de como soa na nossa voz.
Para entrar de forma confortável neste registo devemos articular as palavras com muito espaço, dominando o queixo e a língua, por forma a posicionar o palato e permitir que o som viaje para a cavidade nasal e seios paranasais e se enriqueça lá.
Às vezes ficamos surpreendidos com a abertura da boca de alguns cantores. Repare que já no registo médio irá adequar o espaço da boca, e no registo de cabeça aumentar esse espaço precisamente para conseguir colocar corretamente e confortavelmente esta voz.
“(…) be sure that you master chest and middle voice before we spend much more time with head voice.”
Muitas vezes confunde-se voz de cabeça com falsete. Acredito que são coisas distintas até porque utilizamos um mecanismo diferente para cada uma destas vozes.
“Most people think that head voice and falsetto are the same thing, and the terms are used almost interchangeably. But these two places in the voice are entirely different. When you’re singing in head voice, you’re still allowing about a third of your vocal cords to vibrate. But falsetto is produced when so much air blows through the cords that the cords completely separate and only the outer periphery or edge of the vocal cords vibrates. Falsetto doesn’t use any normal inner-edge vibration at all.”
O registo de cabeça ou voz de cabeça resulta da extensão das cordas vocais e o falsete acontece com a vibração das cordas falsas (extremidade das cordas vocais) como pode perceber na figura 1 (Cordas vocais no falsete. A vibração acontece na extremidade (tracejado verde).
Nos últimos artigos escrevi sobre o registo de peito e registo médio. Foi consciente esta ordem. Porque se pensarmos nas cordas vocais como um fecho, este vai fechando até ao registo de cabeça. Isto acontece quando cantamos escalas ascendentes (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, …). O inverso decorre quando cantamos escalas descendentes (dó, si, lá, sol, fá, mi, ré, dó).
Quando cantamos escalas nos exercicios vocais, vamos sempre da nota mais grave à nota mais aguda e depois descemos. Porque assim trabalhamos a flexibilidade das cordas vocais e cada vez somos mais precisos na afinação.
“In “head” voice, the suspensory muscles of the larynx at their highest activity.”
Considero o falsete uma técnica e não um registo, aciona-se quando pretendemos como recurso estético. O registo é consequência da extensão das cordas vocais.
“Many pop singers – think of the Bee Gees or Prince – have built their sound around falsetto, or used it to express a particular character in a song, (…)”
Existem várias diferenças entre falsete e registo de cabeça. Uma delas é não conseguirmos fazer a ligação entre os três registos. Se estamos a utilizar o falsete em vez da voz de cabeça, temos que inibir o mecanismo das cordas falsas para passar a utilizar as cordas verdadeiras. Isto faz com que exista um silêncio na passagem (uma quebra).
“Although referred to as the “false” vocal folds, the ventricular folds do not operate in the same way as “true” vocal folds. The false vocal folds are mostly fatty tissue and mucus glands, with a small slip of muscle at the anterior end (front). They are positioned slightly above the true vocal folds but not touching. (…) In normal phonation the false vocal folds need to be away from the mid-line so that they do not interfere with true vocal fold vibration.”
Fiz um vídeo sobre estas diferenças entre o falsete e a voz de cabeça, onde apresento alguns exemplos famosos da utilização do falsete e da voz de cabeça.
Este registo muitas vezes parece inacessível por várias razões. Primeiro por acharmos que é inacessível. Como já referi muitos de nós nunca acedemos a este registo, logo não temos memória de como soa.
Outra questão é anteciparmos o problema, como achamos que é inacessível, começamos logo a construir tensão em músculos que dificultam a execução de qualquer nota. Como os músculos da garganta, pescoço, língua, músculos suspensores da laringe.
“No matter how much you’d love to hit the highest highs instantly, take your time. If you feel any strain at all, no matter where you are in the exercises, stop. If the voices on the tape enter an area that’s beyond you today, stop and listen, then rejoin the exercise when it returns to the part of the range you own today. The notes you claim slowly, and without pressure or pain, are the ones that belong to you. There’s no rush. “
Para cantar confortavelmente em qualquer registo devemos estar muito relaxados, principalmente na garganta, pescoço, ombros, por forma a não acionar estes músculos suspensores e a restringir movimento natural das cartilagens que movem as cordas vocais.
“In attacking the note on the breath, particularly in the high notes, it is quite possible that at first the voice will not respond. For a long time merely an emission or breath or perhaps a little squeak on the high note is all that can be hoped for. If, however, this is continued, eventually the head voice will be joined to the breath, and a faint note will find utterance which with practice will developed until it becomes an easy and brilliant tone.”
Também temos tendência a exagerar no volume e montante de ar que utilizamos nestas notas. O som agudo tem mais frequência e traduzimos isso em energia que devemos utilizar para cantar, quando ouvimos esses sons.
“In the high register the head voice, or voice which vibrates in the head cavities, should be used chiefly. The middle register requires palatal resonance, and the first notes of the head register and the last ones of the middle require a judicious blending of both. The middle register can be dragged up to the high notes, but always at the cost first of the beauty of the voice and then of the voice itself, for no organ can stand being used wrongly for a long time.”
O som agudo necessita de mais pressão de ar, mas menos quantidade de ar. Se pensarmos as cordas vocais estão na posição mais esticada logo não é necessário muito ar para as fazer vibrar. Este equilíbrio só se encontra com o domínio da respiração.
Tudo isto se pratica com exercícios vocais. Eles vão permitir perceber quais as alterações que fisicamente sente em cada registo e como soa em cada registo. Principalmente demonstrar-lhe que este registo de cabeça é acessível e faz parte da sua voz.