Exercícios de Respiração para Cantores

Nas aulas de Canto muitas vezes reparo que tenho alunos com dificuldades distintas no que diz respeito à respiração.

Há pessoas que tem facilidade e consciência muscular de como respirar de forma diafragmática, para o abdómen. No entanto tem dificuldade em aplicar uma coluna de ar ao som que estão a produzir.

Outros tem facilidade em usar a expiração para criar som, mas no entanto a sua respiração é mais torácica do que diafragmática, logo aí reside a dificuldade em criar pressão de ar suficiente para suster as notas.

Assim sendo, divido o estudo da respiração em III partes.

Exercícios de Respiração Parte I – Memória Muscular

A I Parte, com exercícios de consciencialização do movimento dos músculos intervenientes. Estes são essenciais para perceber como mudar de uma respiração torácica para uma respiração diafragmática (no abdómen).

Exercício 1 – Movimento do diafragma

» Deitado numa superfície plana. Sinta o suporte dessa superfície em todo o corpo. Relaxe todos os músculos deixando o peso do seu corpo se apoiar plenamente nessa superfície.

» Sopre todo o ar lentamente e assim que sentir que não tem mais ar, inspire imediatamente pelo nariz de forma lenta e relaxada. Sinta o ar a entrar no seu corpo.

» Coloque as mãos, uma abaixo da linha do peito e a outra logo de seguida cobrindo a parede abdominal. A ideia é sentir a respiração debaixo das suas mãos. Ao inspirar vai sentir a expansão desses músculos e ao expirar o movimento inverso e assim adquirir memória muscular.

Dica: Pode colocar um livro (não muito pesado 😉 ) e observar a subida e descida da parede abdominal enquanto vê a sua série favorita.

Exercício 2 – Movimento dos intercostais

» Sentado com os pés bem apoiados no chão (as pernas em forma de L), coloque as mãos abaixo da linha do peito na lateral, por cima da parte superior das suas costelas (para ter perceção do movimento dos intercostais).

» Vamos agora expirar pela boca e durante a expiração, inclinar o tronco para a a frente, num ângulo de  60º.

» Nesta posição, assim que ficarmos sem ar, inspiramos lentamente pelo nariz. Este exercício permite sentir de forma mais ampla o movimento dos intercostais.

» Na mesma posição executamos mais dois ciclos respiratórios, ou seja, expiramos pela boca e inspiramos pelo nariz.

» Da terceira vez na expiração voltamos à posição inicial de um ângulo de 90º na cadeira.

Exercício 3 – Controle da pressão do ar

» De pé sopre com pressão todo o ar como se fosse encher aquela boia de praia 😉 .

» Logo que sentir um vácuo na zona abdominal inspire pelo nariz lentamente até encher completamente os seus pulmões.

» De seguida expire com as consoantes ‘Tsssssss’ como se da própria boia de praia a esvaziar se trata-se.

» Deve criar uma pressão de ar constante até acabar todo o ar e logo de seguida não se esqueça de inspirar pelo nariz.

Dica: Deve cronometrar para perceber quantos segundos consegue expirar com uma pressão de ar constante.

Exercícios de Respiração Parte II – Usar o Ar para produzir som

A II parte consiste na utilização unicamente do ar para cantar, daí me ter referido à respiração no Canto como a ‘Fonte de Energia’.

Exercício 1 – Ativar ‘diafragma’

» Expire todo o ar pela boca, a soprar, até sentir que a sua parede abdominal colou às costas. Logo de seguida inspire pelo nariz de forma lenta e prolongada.

» Solte o ar em pequenos golpes como som ‘Tsss’ ou ‘Chhh’ (como em chave).

» Deve colocar as mãos sobre a parede abdominal para sentir o movimento do diafragma.

Dica: pode utilizar o metrónomo a uma velocidade confortável para soltar o ar a tempo.

Exercício 2 – Aplicar  o ar à fonação

» A preparação para iniciar cada exercício é sempre igual, ou seja, expirar todo o ar pela boca (a soprar) e inspirar logo de seguida pelo nariz.

» Pense no som mais agudo que acha que consegue produzir, sim corra riscos :), e de seguida solte todo o ar com ‘Brrrrrrrrrr’  vibração de lábios.

» Vai descer na escala de forma natural da nota mais aguda para a mais grave que consegue com este som.

» Repita umas 3 a 5 vezes no máximo.

Dica:  Repare que está a produzir uma vogal a par dessa vibração, um (ê) se quiser.

Exercício 3 – Gerir a pressão do ar

» Para este exercício  iremos necessitar de um copo de água meio cheio e uma palhinha.

» Comece por soprar pela palhinha dentro do copo de água. A intenção é manter uma constante produção de bolhas que emergem da água. Inspire sempre que precisar.

» Agora murmure com (‘Mmmm’ ou ‘Hum’) pela palhinha. Mantenha uma suave corrente de ar. O objetivo é conseguir produzir som e bolhas a emergir da água de forma constante sem sair água do copo.

Dica: Se a água salta para fora do copo é sinal que está a usar demasiada quantidade e pressão de ar para produzir som.

Exercícios de Respiração Parte III – Gestão do Ar

A III parte consiste na gestão do ar. Vamos perceber que em diferentes registos da nossa voz, necessitamos de quantidade e pressão de ar distinta para produzir som. Que muitas vezes temos que manter o diafragma suspenso por uns segundos antes de executar uma determinada nota, ou que temos que relaxar imediatamente a musculatura para produzir o som desejado.

Exercício 1 – Pressão do ar distinta

» Vamos colocar uma mão na parede abdominal só para sentir o movimento e na expiração iremos produzir 3 sons distintos: ‘Chhh’ , ‘Tsss’ e ‘Ffff’.

» Soltamos o ar num ritmo constante e com sons curtos, até sentirmos que não conseguimos obter mais movimento da parede abdominal e aí inspiramos novamente.

» Repita três vezes.

Dica: Utilize o metrónomo para manter o ritmo a uma velocidade mais ou menos de 120 BPM para produzir sons de pequena duração. Executa o exercício com uma só expiração.

Exercício 2 – Suspensão

» Chamo a este exercício 4-5-8, porque utilizo contagens para o realizar. Com o metrónomo para poder contar, coloque à velocidade de 80/85 BPM e com 1 tempo.

» Inspire em 4 tempos pelo nariz, aguente o ar lá dentro 5 tempos e expire a soprar com intensidade em 8 tempos.

» Repita três vezes de forma cíclica.

» Assim que tiver mais há vontade com este exercício, faça a expiração com o som ‘Tssssss’.

Exercício 3 – Suspensão ativando intercostais e libertando articuladores

» Com as mesmas contagens do exercício anterior. Inspire em 4 tempos pelo nariz e ao mesmo tempo levante os braços formando com eles uma linha reta com os ombros.  Irá sentir o movimento dos intercostais.

»Aguente o ar lá dentro durante 5 tempos.

» Expire pela boca com um ‘Háááá’ surdo. Ao mesmo tempo que expira deixe cair o queixo para baixo, abrindo a boca e relaxando toda a cavidade oral (boca).

» Mantenha os braços na mesma posição e execute o exercício três vezes de forma cíclica. Na última vez baixe os braços lentamente durante a expiração.

» Volte a executar todo o exercício mas agora, na expiração, solte um ‘Háááá’ audível e relaxado. Execute este também, três vezes de forma cíclica.

Dica: É sempre benéfico fazer alguns exercícios de relaxamento antes de fazer exercícios de respiração. Tenha também atenção à sua postura sempre 😉

‘Apoio’ no Canto – O que é?

O apoio no Canto consiste na gestão eficiente do ar.

“Apoio, portanto, é o controlo elástico e consciente da força retrátil passiva e espontânea do movimento de elevação do diafragma ao promover a expiração, e é conseguido pelo domínio dos seus antagônicos – os músculos abdominais e intercostais – com a finalidade de manter o equilíbrio da coluna de ar e aplicá-la à fonação.”

Helena Wöhl Coelho, 1994 do livro Técnica vocal para coros.

Esta gestão que falava à pouco é realizada pelos músculos intercostais e  diafragma.

No último artigo ‘ Respiração no Canto’ encontras esclarecimento sobre os músculos utilizados na respiração diafragmática-intercostal.

“It is perfectly natural. I breath low down in the diaphragm, not as some do, high up in upper part of the chest. I always hold some breath in reserve for the crescendos, employing only what is absolutely necessary, and I renew the breath wherever it is easiest.”

Caruso, Enrico – Caruso and Tetrazzini on the Art of Singing. Printed in France by Amazon. Brétigny-sur-Orge, FR. ISBN9781511730747

Tetrazzini faz referência a esta gestão do ar necessária dizendo que reserva algum ar para os crescendos. Cada canção, obra tem as suas exigências respiratórias. Nem todas as canções tem o mesmo ritmo, a mesma dinâmica a mesma métrica. Todas estas situações são desafios quando pensamos na melhor forma de ‘respirar’ em cada canção.

Daí a necessidade de analisar a canção. Primeiramente penso ser benéfico perceber o ritmo da canção, o seu compasso, a sua velocidade. Depois perceber a métrica das palavras relacionada claro com a melodia que lhe está associada, a sua dinâmica (se sobe, se desce e como). O volume também faz parte da equação, no fortíssimo e pianíssimo a quantidade e pressão de ar é diferente.

Estes desafios sempre que temos que interpretar uma nova canção  são reveladores das dificuldades respiratórias que temos no Canto.

Primeiro devemos aprender a técnica respiratória de forma a que haja memória muscular para suportar a voz cantada. Deve-se realizar exercícios respiratórios no início para adquirir a perceção do movimento do diafragma e intercostais (sentir a expansão destes músculos).  Para passarmos da respiração ‘torácica’ para a respiração ‘diafragmática – intercostal.

Na respiração torácica o nosso peito aumenta de volume e elevamos os ombros. Esta respiração não é benéfica para o Canto. Pois aqui, não estamos a usar o potencial do diafragma e dos intercostais para criar pressão de ar necessária à vibração das cordas vocais.

No próximo artigo do blog irei partilhar mais exercícios de respiração para trabalhar áreas específicas da técnica vocal. Subscreva a newsletter para não perder!

Respiração no Canto – Músculos Intervenientes

A respiração é sempre a protagonista quando se fala de Canto e Técnica Vocal. Existe uma razão plausível para isso, é que esta deve ser a única fonte de energia e suporte da voz.

Acho importante perceber onde tudo se passa quando executámos a respiração diafragmática – intercostal. Logo, comecemos pelo diafragma.

O diafragma é um músculo na base do pulmão, parecido com um paraquedas. Quando inspiramos o diafragma é estendido e quando expiramos ele sobe.

Este músculo é extremamente importante pois assim que se eleva em direção aos pulmões conseguimos criar um fluxo de ar contínuo para fazer as cordas vocais vibrarem e produzir som.

O órgão respiratório é um mecanismo de suspensão daí a necessidade de uma boa postura e relaxamento dos músculos intervenientes.

Um dos mais poderosos grupos de músculos do aparelho respiratório para além do diafragma é o Sacrospinal. Consiste num conjunto de músculos ligados desde as costas do crânio à base da coluna.

Quando estes músculos são ativados pelo aumento do volume dos pulmões, todo o torso é suspenso e o arco intercostal alargar-se pelo diafragma.

A expansão no baixo abdómen resulta do movimento do diafragma.

Atado ao diafragma na parte central das costelas encontram-se os músculos intercostais.

A respiração diafragmática-intercostal consiste na ativação de todos estes músculos, o diafragma, sacrospinal e os intercostais.

Esta é a primeira parte de uma série de artigos sobre este tema tão importante para os Cantores, a respiração. No fundo este foi para dar a conhecer os músculos intervenientes na respiração diafragmática – intercostal.

A Fonte de Energia

A expiração é a responsável pela vibração das cordas vocais e daí a responsável pela produção do som.

O ato de respirar envolve vários órgãos e respirar bem está intimamente ligado a uma boa postura.

No Canto aprendemos a controlar a inspiração e expiração pois deve ser a única fonte de energia a ser utilizada para fazer as cordas vocais vibrarem.

A respiração usada no Canto pode ser denominada de várias formas, aqui vamos optar pela denominação respiração Diafragmática- Intercostal.

“Pavarotti emulated what he saw, and for the first time in his career, he began to use diaphragmatic breathing. When he did, he says, everything changed for him. He worried less that his voice would be strong on day and feeble the next. He felt he got a much greater level of consistency from his sound, and performing became much more pleasurable.”

Roger Love do livro Set your voice free

A respiração diafragmática-intercostal consiste na inspiração pelo nariz, enchendo os pulmões desde a sua base, estendendo o diafragma e os músculos intercostais responsáveis pela expansão da caixa torácica (sente-se na parte inferior da caixa torácica).

Respiração no Canto, Sónia André Blog Tudo sobre Canto
The diaphragm functions in breathing illustration

Na expiração todos os músculos intercostais e o diafragma são responsáveis pela criação de pressão de ar que, na sua saída, fará vibrar as cordas vocais.

“A singer must be able to rely on his breath, just as he relies upon the solidity of the ground beneath his feet.”

Caruso, Enrico – Caruso and Tetrazzini on the Art of Singing. Printed in France by Amazon. Brétigny-sur-Orge, FR. ISBN9781511730747

A respiração que não devemos usar denominamos de Torácica, esta é um produto de uma má postura corporal, das vidas atarefadas, das horas que passamos sentados. Esta respiração envolve o uso de músculos do peito, é responsável por movimentos respiratórios curtos. Ineficiente para o Canto e fala, pois, a ação destes músculos não permite a criação de pressão de ar, essencial à vibração das cordas vocais.