Como escolher repertório para uma audição?

A escolha do repertório é uma das formas mais inteligentes de usar o potencial da sua voz e de a manter saudável.

Audições e Castings escolha de repertório, blog tudo sobre Canto de Sónia André
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Para não forçarmos a voz primeiro devemos ter um autoconhecimento aprofundado da nossa voz e isso muitas vezes só se consegue com orientação de um professor. É importante saber que tipo de voz temos, por exemplo: soprano, tenor, contralto, barítono, ….

Também é importante perceber quantas notas conseguimos cantar confortavelmente, saber a nossa tessitura.

“You should avoid any material that puts a great demand in your voice from a Dynamics standpoint. Select songs that are more melodic, not those that need “punch” or require a “dramatic” dynamic level. As I’ve said already, singing songs is not vocal technique. (…) Style and interpretation are on substitute for vocal technique. Without good vocal technique, style and interpretation are greatly restricted.”

Singing for he Stars by Seth Riggs

Depois acredito que devemos escolher canções que nos façam sentir algo, com as quais nos identifiquemos pois assim a interpretação será pessoal e causará emoção.

Preparar para audições, blog tudo sobre Canto de Sónia André
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Outro requisito essencial é a tonalidade das músicas. Estas devem estar numa tonalidade adequada à nossa voz. Se sentirmos dificuldade na região grave da canção devemos subir a tonalidade. Se a dificuldade for na região aguda devemos descer a tonalidade. Também devemos ter em conta se estamos a interpretar uma canção de uma voz masculina ou feminina.

Havendo a oportunidade deve-se testar até encontrar a tonalidade perfeita para nós de cada canção. Mesmo que o cantor original tenha o mesmo tipo de voz que o nosso, muitas vezes ainda não possuímos a técnica vocal necessária para cantarmos o tema de forma confortável.

Para enriquecer o repertório acredito que é bom diversificar um pouco no estilo que se canta, se for a intenção evoluir e procurar um estilo próprio.

“Often singers try to imitate the voice or singing style of famous entertainer or other person they admire. A sound that’s appropriate for one person’s voice, however, is not necessarily good for another’s. When you try to handle, you only abuse your voice.”

Singing for he Stars by Seth Riggs

Para participar em audições o cantor deve ter em conta que o fator psicológico interfere na sua performance e escolher os temas que faz até de ‘olhos fechados’. Tem que estar totalmente confortável com essas canções, sabelas de cor e salteado. Conseguir interpretar e concentrar-se na música apesar da situação de avaliação.

“In singing, the path to developing a distinctive personal style is to imitate a wide variety of vocalists and broaden the range of sounds you can use to create something original. In speaking, though, I recommend listening and analyzing instead of imitating.”

Set your voice free. Roger Love

Como preparar-se?

No caso das audições é bom filmar-se a fazer os temas para perceber como se comporta e se gosta da sua performance. Cantar sempre em frente a um espelho é muito positivo até para corrigir a sua postura e outras situações técnicas visíveis na expressão facial.

Deve-se sempre aquecer a voz, antes de qualquer apresentação ou audição. Mas não sobreaquecer tendo em conta que tem que estar com energia para a performance.

Nos dias que antecedem as audições não devemos exagerar no tempo de ensaio. Deve-se estudar as canções, claro, mas há muitas formas de estudar o tema sem estar a cantar durante 4/5 horas. É sobrecarregar a sua voz e corre o risco de ficar sem ela (ronquidão).

Deve hidratar-se, alimentar-se e dormir bem nesses dias que antecedem. Aliás são hábitos que todos os cantores devem adquirir.

Ensaiar para audições, blog de Sonia Andre Tudosobrecanto.com
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Criar uma personagem para conseguir fazer a melhor performance possível, é uma das soluções para enfrentar as inseguranças normais da situação de ser avaliado no teste ou adição (casting).

“Believe me, most of us have way too much baggage to take the stage as our everyday selves, so create yourself a fearless stage persona and let them do it for you.”

The Zen of Singing. Karen Callinger

 

Posição da Cabeça no Canto

Sem conhecer a ação dos músculos suspensores durante o canto, nunca iriamos perceber a importância da postura da cabeça.

O quanto a posição da cabeça influência o Canto Tudo sobre Canto blog de Sonia Andre
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Podemos pensar na laringe como um ‘elevador’, está suspensa por músculos qua a fazem subir e descer.

Estes músculos suspensores assistem a laringe em duas funções. A engolir, ou seja, a primeira função da laringe é fechar para evitar a entrada do alimento na via respiratória.

Músculos Suspensores da Laringe, Blog Tudo sobre Canto de Sónia André
Suspensory Muscles of the larynx. p.48 Anatomy of The Voice, Illustrated by G. David Brown

No canto os músculos suspensores da laringe devem estar livres de tensão, e a laringe deve estar numa posição neutra (baixa, não deve subir) de forma às cartilagens esticarem as cordas vocais e a garganta que é a principal cavidade de ressonância se manter na posição aberta.

“When we sing, however, the swallowing muscles that elevate and constrict the larynx tend to come into play, particularly when we sing in falsetto or head registers. In order to maintain a low position of the larynx and an open throat, the action of the swallowing muscles that elevate the larynx must be countered by muscles pulling down on the larynx, antagonistically supporting it within a web of muscles. This makes it possible to raise the pitch without interfering with the vibratory action of the larynx, and maintain an open throat. Engaging the suspensory muscles in this way is one of the most important skills a trained singer must learn.”

Anatomy of the Voice, Theodore Dimon

Tendo agora conhecimento destes da ação destes músulos percebemos que devemos manter a cabeça numa posição em que consigamos articular e mexer livremente o queixo o que nos permite cantar no registo de cabeça e falsete sem tensão, esticando as cordas vocais e abrindo a garganta para o som entrar nas cavidades de ressonância correspondentes e ao mesmo tempo temos a língua e o queixo livres para articular.

 

Posição da Laringe no Canto, blog de Sonia Andre Tudo sobre Canto
Posição da Laringe no Canto. p.143 do Livro This is a Voice de Jeremy Fisher & Gillyanne Kayes

“The depth and fullness of the oscuro component of this sound quality is achieved by using a “comfortably low” larynx, which elongates the tube of the vocal tract. This laryngeal posture is often referred to as the “sob setting” because in speaking voice it’s similar to the position of the larynx during the act of sobbing.”

This is a Voice de Jeremy Fisher & Gillyanne Kayes

Reparo que é um erro comum com os meus alunos o de dirigir o olhar para o teto e levantar a cabeça sempre que temos que cantar no registo mais agudo isto eleva a laringe e aciona estes músculos suspensores, consequentemente fechamos a garganta e temos o maxilar preso para articular.

“They lower  their chins to their chests, thinking that’s where the low pitches are. Then they raise their heads to the sky, stretching their necks like giraffes eating leaves from a tall tree, as though this position will somehow help them hit the high notes. It just doesn’t work like that. And the pain in the neck that results is just one more source of strain that keeps them from gaining access to the middle.”

Set your voice free. Roger Love with Donna Frazier

posição errada da cabeça no canto
b) Strained appearance of the singer; c) Lines of force of the elevators; p.51 from Anatomy of The Voice, Illustrated by G. David Brown

“All of this activity is associated with tightening the throat, as we can clearly be seen in untrained singers who “reach” for high notes by raising the larynx and tightening the entire neck and larynx in the process.”

Anatomy of the Voice, Theodore Dimon

Devemos monitorizar estes movimentos bruscos da cabeça tendo em conta que isso influência todo o funcionamento da voz. Podemos fazê-lo fazendo recurso a um espelho.

 

Ressonância na Voz

A ressonância é o resultado de um som que encontra um espaço e se expande. Logo a ressonância na voz é a amplificação da voz por meio de cavidades.

Ressonância, Tudo sobre Canto Blog da cantora e professora Sónia André
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Depois de as cordas vocais vibrarem com a passagem do ar, este transforma-se em som.
Logo, o ar dá origem a uma frequência fundamental e muitos harmónicos que se amplificam nas cavidades nasal e oral.

Nota fundamental e Harmónicos da Voz, Blog Sónia André Tudo sobre canto
Nota Fundamental e seus harmónicos

“…, o som emitido pelas cordas vocais é muito pouco definido parece-se quase com ruído, pois contém quase todas as frequências usadas na fala com igual peso. É a cavidade ressonante, constituída pelas cavidades oral e nasal, que vai transmitir seletivamente as frequências presentes no som emitido pelas cordas vocais e moldar o espectro.”

Acústica / Ressonância por R. Guerra

Se pensarmos que a voz tem três caixas de ressonância, e que cada caixa está destinada a uma gama de sons, sons graves (registo de peito ou voz de peito), sons médios (registo médio ou voz média) e sons agudos (registo de cabeça ou voz de cabeça), temos que canalizar esses sons para a sua caixa de ressonância amplificando assim, a frequência fundamental desse som e os seus harmónicos constituintes, irá permitir-nos ter um som encorpado e distinto.

Caixa de Ressonância Inferior: constituída por faringe, tórax, traqueia e brônquios.
Caixa de Ressonância Superior: constituída por cavidade oral, cavidade nasal e seios paranasais.

Cavidades de ressonância da voz, Blog Tudo sobre canto de Sónia André
Cavidades de Ressonância da Voz

“É a combinação dos dois efeitos (variação das frequências de
ressonância e variação do espectro de harmónicos emitido pelas cordas vocais) que produz a riqueza de sons que usamos para comunicar.”

Acústica / Ressonância por R. Guerra

Temos que através do ar transportar os sons para a sua caixa de ressonância, com isto temos uma direção para o ar expirado.

“To attack a tone, the breath must be directed to a focal point on the palate, which lies under the critical point for each different tone; this must be done with a certain decisiveness. There must however, be no pressure on this place; or the overtones must be able to soar above, and sound with, the tone.”

Lehmann, Lili, (1902). How to sing. 

No entanto, o processo de articulação também é responsável por direcionar os sons para as suas cavidades de ressonância. Óbvio que isto não é assim tão linear, mas ao atribuir uma caixa de ressonância a cada registo estamos a simplificar este processo o qual definimos como colocação da voz.

“De acordo com o que já vimos, esperamos que os sons correspondentes às frequências próximas das frequências de ressonância sejam amplificados e que os sons correspondentes a frequências afastadas das ressonâncias sejam atenuados. E quais são as frequências de ressonância associadas às cavidades oral e nasal?”

Acústica / Ressonância por R. Guerra

Se tomarmos de exemplo um instrumento como a guitarra, as diferentes formas do corpo do instrumento e o tipo de madeira tem de ser adequados para poder amplificar os sons que resultam das vibrações das cordas. Logo, na voz a forma das nossas cavidades bucal e nasal permitem essa amplificação.

Articulação e Ressonância da voz Tudo sobre canto blog de Sonia Andre
Representação do molde da boca e da sua frequência

“In instruments changes in the length and form of the resonance
chambers affect the pitch as well as the quality of the tone.”

Fillebrown, Thomas (s.d). Resonance in singing and speaking.

O registo grave corresponde a um conjunto de notas, estas notas tem uma frequência e os seus correspondentes harmónicos, possuem características específicas logo, necessitam de um molde específico para se amplificar, vamos pensar neste molde como a caixa de ressonância inferior.

O registo médio, muitas vezes negligenciado e incluído no registo de cabeça, podemos aqui defini-lo como uma mistura da voz de peito e da voz de cabeça, logo possui características específicas e necessita de um molde específico, vamos pensar neste molde como parte da caixa de ressonância superior. Parte pois, este conjunto de notas é amplificado principalmente na cavidade oral.

O registo agudo, por sua vez também tem características específicas logo também necessita de um molde específico para se amplificar, este molde faz parte da caixa de ressonância superior, principalmente a cavidade nasal e os seios paranasais.

Esta divisão como já foi referido não é assim tão linear, mas este esquema mental de divisão dos sons ajuda na direção e colocação dos sons para que os possamos amplificar e enriquecer.

Colocação no Canto e Ressonância, blog de Sonia Andre Tudo sobre Canto
Direção e colocação nos diferentes registos do livro The Zen of Singing. Breath Direction. p.10

“Breath direction controls quality, resonance, and volume. Since harmonic overtones are made by directing the breath into different parts of the mouth, you can control the sound by where you direct your breath.”

The Zen of Singing. Breath Direction.  Karen Gallinger’s

A ressonância é um fenómeno acústico responsável pela nitidez e distinção dos sons. Assim, conseguimos perceber se estamos a cantar um lá ou um sol.

O ouvido, depois de treinado a identificar, distingue as notas porque a frequência fundamental e os respetivos harmónicos são amplificados.

Não foi por acaso que descrevemos as cavidades de ressonância como moldes, pois como já vimos a cavidade oral faz parte das cavidades de ressonância superiores, é com esta que moldamos os sons e os transformamos em vogais e consoantes.

Contratenor

O Contratenor é uma das vozes masculinas mais raras. Possui uma voz mais aguda do que a de um Tenor e muitas vezes confundida com uma voz feminina.

Contratenor, Countertenor Voz Masculina Blog de Sonia Andre Tudo sobre Canto
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Tessitura pode ir de E3 – E5 (Mi3 – Mi5). Este tipo de voz era comum em coros mistos e masculinos que interpretavam música renascentista e barroca.

Alguns exemplos de cantores com este tipo de voz na atualidade Andreas Scholl, David Daniels, Philippe Jaroussky.

Fora da música clássica Jón Þór Birgisson da banda islandesa Sigur Rós, Jimmy Somerville, Jon Anderson da banda de rock progressivo Yes, Vitas, Mitch Grassi do grupo vocal Pentatonix, Jimin, Michael Jackson, Alex Luna, Klaus Nomi, King Diamond e Luc Arbogast.

Personagens da ópera francesa temos como exemplo Lully, Campra, Ramaeau. Grande parte das óperas italianas destes períodos tem personagens com este tipo de voz.

Papéis (exemplos) :

❖ Adone, La catena d’Adone (Domenico Mazzocchi)

❖ Atlante, Alceste, Il palazzo incantato (Luigi Rossi)

❖ Joad, Athalia (Handel)

❖ Childerico, Faramondo, (Handel)

❖ David, Saul (Handel)

❖ Athamas, Semele (Handel)

❖ Joseph, Joseph and his Brethren (Handel)

❖ Hamor, Jephtha (Handel)

Voz de Soprano

O Soprano é a voz mais aguda feminina. A sua tessitura vai de Dó4 (C4) a Lá5 (A5). Trata-se da voz mais comum feminina,

Soprano voz, Tudo sobre Canto blog de Sónia André
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Tipos de Sopranos

Lyrischer Koloratursopran | Koloratursoubrette | Coloratura Soprano | Lyric Coloratura Soprano 

Tessitura C4 – F6 (Dó4 – Fá6). Descrito como um soprano muito leve
com voz pouco encorpada devido à falta de ressonâncias graves. Possui grande agilidade nas notas agudas.

Papéis (exemplos) :

❖ Adina, L’elisir d’amore – Gaetano Donizetti

❖ Marie, La fille du regiment – Gaetano Donizetti

❖ Olympia, Les contes d’Hoffman – Jacques Offenbach

Dramatischer Koloratursopran | Dramatic Coloratura Soprano

Tessitura C4 – F6 (Dó4- Fá6). Igual ao soprano descrito acima apenas com mais ressonâncias graves.

Papéis (exemplos) :

❖ The Queen of the Night, Die Zauberflöte – Wolfgang Amadeus Mozart

❖ Donna Anna, Don Giovanni – Wolfgang Amadeus Mozart

❖ Norma, Norma – Vincenzo Bellini

❖ Violetta, La traviata – Giuseppe Verdi

Deutsche Soubrette | Charaktersopran | Soubrette

Tessitura C4 – C6 (Dó4 – Dó6). Descrita como uma voz doce e lírica capaz de executar passagens fluídas. A tessitura destes encontra-se normalmente entre o soprano de coloratura e o soprano lírico. Muitos sopranos são classificados de início como soubrette e depois a voz amadurece e passam
para outra classificação.

Papéis (exemplos) :

❖ Barbarina, Le nozze di Figaro – Wolfgang Amadeus Mozart

❖ Papagena, Die Zauberflöte – Wolfgang Amadeus Mozart

❖ Susanna, Le nozze di Figaro – Wolfgang Amadeus Mozart

❖ Zerlina, Don Giovanni – Wolfgang Amadeus Mozart

Lyrischer Sopran | Lyric Soprano 

Tessitura B3 – C6 (Si3 – Dó6). Este soprano é flexível capaz de legato, portamento e ágil, é um tipo de soprano mais comum, mas trata-se de
uma voz muito poderosa. Tem uma tessitura menor que os sopranos anteriores, no entanto é uma voz que se preserva jovem mesmo com o avançar da idade.

Papéis (exemplos) :

❖ Lauretta, Gianni Schicchi – Giacomo Puccini

❖ Micaëla, Carmen – Georges Bizet

❖ Pamina, Die Zauberflöte – Wolfgang Amadeus Mozart

Jugendlich dramatischer Sopran | Lyric Dramatic Soprano | Spinto

Tessitura A3 – C6 (Lá3 – Dó6). Descrito como um soprano lírico que consegue alcançar grande volume, tem uma tessitura maior e é mais versátil. Muitas vezes este tipo de voz pode interpretar papeis para mezzo, soprano lírico e coloratura.

Papéis (exemplos) :

❖ Agathe, Der Freischütz – Carl Maria von Weber

❖ Amelia, Un ballo in maschera – Giuseppe Verdi

❖ Cio-Cio San, Madama Butterfly – Giacomo Puccini

❖ Liza, The Queen of Spades – Pyotr Ilyich Tchaikovsky

Dramatischer Sopran | Full Dramatic Soprano

Tessitura A3 – C6 (Lá3 – Dó6). O soprano dramático tem uma voz rica e poderosa. Espera-se que estes projetem acima de uma orquestra e coral. Este tipo de voz é mais rico e escuro, mas possuem pouca agilidade em relação aos sopranos anteriores.

Papéis (exemplos) :

❖ Elektra, Elektra – Richard Strauss

❖ La Gioconda, La Gioconda – Amilcare Ponchielli

❖ Tosca, Tosca – Giacomo Puccini

Hochdramatischer Sopran | High Dramatic Soprano

Tessitura F3 – C6 (Fá3 – Dó6). Trata-se de uma voz rara, muito potente, com excelente volume como exigem as peças de Wagner. O registo grave é muito forte e o registo de cabeça possui leveza e muito brilho.

 

Voz de Mezzo-soprano

O Mezzo-soprano (Mezzo) é a voz média feminina. A sua tessitura vai de Lá3 (A3) a Fá5 (F5).

Voz de Mezzo-soprano, Tudo sobre canto blog de Sónia André
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Tipos de Mezzo – soprano

Koloratur-Mezzosopran | Coloratura Mezzo-soprano

Tessitura G3 – B5 (Sol3 – Si5). Este tipo de voz é encontrado frequentemente nas óperas de Rossini. Estas peças foram escritas inicialmente para altos com agilidade nas notas agudas.

Papéis (exemplos):

❖ Angelina, La Cenerentola – Gioachino Rossini

❖ Isabella, L’italiana in Algeri – Gioachino Rossini

❖ Rosina, Il barbiere di Siviglia – Gioachino Rossini

❖ Tancredi, Tancredi – Gioacchino Rossini

Lyrischer Mezzosopran / Spielalt | Lyric Mezzo-Soprano

Tessitura G3 – B5 (Sol3 – Si5). Voz similar ao soprano lírico com região aguda menor e região grave maior.

Papéis (exemplos):

❖ Cherubino, Le nozze di Figaro – Wolfgang Amadeus Mozart

❖ Dorabella, Così fan tutte – Wolfgang Amadeus Mozart

❖ Hänsel, Hänsel und Gretel – Engelbert Humperdinck

❖ Suzuki, Madama Butterfly – Giacomo Puccini

Dramatischer Mezzosopran | Dramatic Mezzo-soprano

Tessitura G3 – B5 (Sol3 – Si5). A diferença entre estes e os sopranos dramáticos é que este tem resistência na voz média e grave, atingindo a voz de cabeça apenas no clímax da música, o que lhes permite cantar papeis de soprano dramático com grande eficácia.

Papéis (exemplos):

❖ Dido, Les Troyens – Hector Berlioz

❖ Dalila, Samson et Dalila – Camille Saint-Saëns

❖ Ortrud, Lohengrin – Richard Wagner

 

 

Voz de Contralto

Dentro das vozes femininas temos o Contralto (Alto), voz mais grave feminina. A sua tessitura vai em média de Sol3 (G3) a Mi5 (E5). Voz feminina com um timbre muito escuro, devido à sua raridade esta voz tem poucos papeis na ópera, a maior parte do repertório para este tipo de voz é do período barroco.

Voz de Contralto, alto Tudo sobre canto blog de Sónia André
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Os tipos de contraltos segundo a classificação alemã “Fach” não é muito vasta.

Tipos de Contraltos

Dramatischer Alt | Dramatic Contralto

Tessitura F3 – A5 (Fá3 – Lá5). Estilisticamente é parecido com o mezzo dramático, mas consegue atingir notas mais graves com uma ressonância mais grave e rica. É uma voz muito rara.

Tiefer Alt | Low Contralto

Tessitura E3 – E5 (Mi3 – Mi5). Voz feminina muito grave.
Ainda mais escura que o contralto dramático e ainda mais rara.

Papéis (exemplos):

❖ Gaea, Daphne – Richard Strauss

❖ Geneviève, Pelléas et Mélisande – Claude Debussy

 

Como já foi referido a maior parte do repertório adequado à voz de contralto é do periodo barroco, assim sendo acrescentei a esta playlist também as peças mais famosas.

 

❖ Stabat Mater, RV 621 – I. Stabat mater dolorosa – Vivaldi

❖ King Arthur – The Cold Song – Purcell

❖ Erbarme Dich – Bach

❖ Rinaldo – Lascia ch’io pianga  – Händel

 

 

Timbre é igual a Registo?

O Timbre é em música um som com características específicas resultantes do instrumento que o produz e do seu ambiente. Assim podemos ter duas guitarras na mesma sala (ambiente) e estas podem estar a produzir a mesma nota, mas no entanto, o seu timbre é distinto pois possuem, por exemplo, madeiras, forma e tipo de cordas diferentes.

Artigo Registo igual a timbre, Blog Tudo sobre Canto
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Na Voz isso ainda é mais evidente! O timbre na voz é como uma impressão digital. Todos temos uma voz única, não existe mais nenhuma igual à nossa.

No entanto, é possível classificar vozes com características idênticas apesar dos seus timbres serem diferentes e daí os nomes que já ouviu com certeza falar, Soprano, Tenor, …

Agora onde entra o termo Registo. Aliás faz sentido falar de registos no plural.

Os registos são conjuntos de notas com características comuns. As cordas vocais assumem uma posição e uma determinada tensão para produzir graves, médios e agudos.

Posição das cordas vocais num ciclo de vibração.

A partir desta constatação percebemos que iremos ter três registos. O registo de peito ou voz de peito (graves), registo médio (médios) e registo de cabeça ou voz de cabeça (agudos).

Cada registo obriga a uma quantidade e pressão de ar distinta. Também, cada registo possui harmónicos específicos que devem ser amplificados na sua caixa de ressonância.

A cavidade oral é responsável pela articulação desses sons, formando moldes específicos para as notas.

Em suma, podemos encontrar estes três registos em todas as vozes. O que acontece frequentemente é que ainda não possuímos as ferramentas para os aceder com facilidade.

 

Como funciona a Voz?

“There is only one way to sing correctly, and that is to sing naturally, easily, comfortably.”

Caruso, Enrico – Caruso and Tetrazzini on the Art of Singing. Printed in France by Amazon. Brétigny-sur-Orge, FR. ISBN9781511730747

Como funciona a Voz tudo sobre canto blog
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Quando inspiramos o ar passa pelas cordas vocais e estas encontram-se na posição aberta. Assim que ouvimos uma nota, os músculos e cartilagens da laringe estendem as cordas vocais na pressão certa para que, a coluna de ar criada pelo aparelho respiratório ao passar pelas cordas vocais, as faça vibrar, produzindo a nota musical que ouvimos anteriormente.

“I’m a stronger believer in the idea that the more you understand about what’s happening in your body as you speak and sing, the better you’ll sound.”

Roger Love do livro Set your voice free.

O aparelho vocal é constituído por inúmeros órgãos e grupos de músculos e nervos. Trata-se de um conjunto de mecanismos flexíveis que operam em harmonia.

A Laringe é um tubo cartilaginoso de forma irregular, que liga a faringe à traqueia e onde se situam as cordas vocais, esta tem a função de evitar a entrada de alimentos na via respiratória e a produção de som.

Tensors of the larynx.
Ilustração do Livro Anatomy of the Voice

É importante no Canto percebermos onde se situam as cordas vocais e que a laringe se move pela ação de vários músculos. É um mecanismo flexível e tem que o ser, porque utilizamos os mesmos órgãos para várias funções.

Um bom exemplo disso é quando estamos a comer, muitos destes mecanismos que usamos para cantar assumem diferentes funções. Claro que isto tudo se aciona através do nosso cérebro e que não temos que pensar nisso.

A Cantar muitas vezes fazemos uma tensão na garganta e usamos a parte de trás da língua isto aciona partes do aparato vocal desnecessárias. Também ocorre com frequência a subida ou descida da laringe (visível através da maça de Adão, proeminência laríngea), este desequilíbrio faz com que as cartilagens responsáveis por estender as cordas vocais não se encontrem numa posição favorável para o fazer.

Action of the transverse and oblique arytenoid muscles, wich close the glottis.
Ilustração do Livro Anatomy of the Voice

“The brain is the overall regulator of these systems: activating muscles, providing information via nerve pathways, and using both sensory and auditory feedback to control and monitor the functioning of the tree systems. Except in rare cases, all humans are capable of making both spoken and sung sounds.”

Jeremy Fisher & Gillyanne Kayes do livro This is a Voice

Muitas vezes não entendemos o porquê de se fazer tantos exercícios vocais para se dominar a voz. Digamos que se percebermos que estes músculos funcionam sem o comando consciente direto, ou seja, os órgãos internos simplesmente funcionam, como iremos desativar as ações que não interessam à produção do som!?

Assim sendo, devemos primeiro perceber como o som é produzido e porque certos músculos se acionam. De seguida estimulamos o funcionamento ideal desses mecanismos para Cantar através de exercícios vocais.

Exercícios de Respiração para Cantores

Nas aulas de Canto muitas vezes reparo que tenho alunos com dificuldades distintas no que diz respeito à respiração.

Há pessoas que tem facilidade e consciência muscular de como respirar de forma diafragmática, para o abdómen. No entanto tem dificuldade em aplicar uma coluna de ar ao som que estão a produzir.

Outros tem facilidade em usar a expiração para criar som, mas no entanto a sua respiração é mais torácica do que diafragmática, logo aí reside a dificuldade em criar pressão de ar suficiente para suster as notas.

Assim sendo, divido o estudo da respiração em III partes.

Exercícios de Respiração Parte I – Memória Muscular

A I Parte, com exercícios de consciencialização do movimento dos músculos intervenientes. Estes são essenciais para perceber como mudar de uma respiração torácica para uma respiração diafragmática (no abdómen).

Exercício 1 – Movimento do diafragma

» Deitado numa superfície plana. Sinta o suporte dessa superfície em todo o corpo. Relaxe todos os músculos deixando o peso do seu corpo se apoiar plenamente nessa superfície.

» Sopre todo o ar lentamente e assim que sentir que não tem mais ar, inspire imediatamente pelo nariz de forma lenta e relaxada. Sinta o ar a entrar no seu corpo.

» Coloque as mãos, uma abaixo da linha do peito e a outra logo de seguida cobrindo a parede abdominal. A ideia é sentir a respiração debaixo das suas mãos. Ao inspirar vai sentir a expansão desses músculos e ao expirar o movimento inverso e assim adquirir memória muscular.

Dica: Pode colocar um livro (não muito pesado 😉 ) e observar a subida e descida da parede abdominal enquanto vê a sua série favorita.

Exercício 2 – Movimento dos intercostais

» Sentado com os pés bem apoiados no chão (as pernas em forma de L), coloque as mãos abaixo da linha do peito na lateral, por cima da parte superior das suas costelas (para ter perceção do movimento dos intercostais).

» Vamos agora expirar pela boca e durante a expiração, inclinar o tronco para a a frente, num ângulo de  60º.

» Nesta posição, assim que ficarmos sem ar, inspiramos lentamente pelo nariz. Este exercício permite sentir de forma mais ampla o movimento dos intercostais.

» Na mesma posição executamos mais dois ciclos respiratórios, ou seja, expiramos pela boca e inspiramos pelo nariz.

» Da terceira vez na expiração voltamos à posição inicial de um ângulo de 90º na cadeira.

Exercício 3 – Controle da pressão do ar

» De pé sopre com pressão todo o ar como se fosse encher aquela boia de praia 😉 .

» Logo que sentir um vácuo na zona abdominal inspire pelo nariz lentamente até encher completamente os seus pulmões.

» De seguida expire com as consoantes ‘Tsssssss’ como se da própria boia de praia a esvaziar se trata-se.

» Deve criar uma pressão de ar constante até acabar todo o ar e logo de seguida não se esqueça de inspirar pelo nariz.

Dica: Deve cronometrar para perceber quantos segundos consegue expirar com uma pressão de ar constante.

Exercícios de Respiração Parte II – Usar o Ar para produzir som

A II parte consiste na utilização unicamente do ar para cantar, daí me ter referido à respiração no Canto como a ‘Fonte de Energia’.

Exercício 1 – Ativar ‘diafragma’

» Expire todo o ar pela boca, a soprar, até sentir que a sua parede abdominal colou às costas. Logo de seguida inspire pelo nariz de forma lenta e prolongada.

» Solte o ar em pequenos golpes como som ‘Tsss’ ou ‘Chhh’ (como em chave).

» Deve colocar as mãos sobre a parede abdominal para sentir o movimento do diafragma.

Dica: pode utilizar o metrónomo a uma velocidade confortável para soltar o ar a tempo.

Exercício 2 – Aplicar  o ar à fonação

» A preparação para iniciar cada exercício é sempre igual, ou seja, expirar todo o ar pela boca (a soprar) e inspirar logo de seguida pelo nariz.

» Pense no som mais agudo que acha que consegue produzir, sim corra riscos :), e de seguida solte todo o ar com ‘Brrrrrrrrrr’  vibração de lábios.

» Vai descer na escala de forma natural da nota mais aguda para a mais grave que consegue com este som.

» Repita umas 3 a 5 vezes no máximo.

Dica:  Repare que está a produzir uma vogal a par dessa vibração, um (ê) se quiser.

Exercício 3 – Gerir a pressão do ar

» Para este exercício  iremos necessitar de um copo de água meio cheio e uma palhinha.

» Comece por soprar pela palhinha dentro do copo de água. A intenção é manter uma constante produção de bolhas que emergem da água. Inspire sempre que precisar.

» Agora murmure com (‘Mmmm’ ou ‘Hum’) pela palhinha. Mantenha uma suave corrente de ar. O objetivo é conseguir produzir som e bolhas a emergir da água de forma constante sem sair água do copo.

Dica: Se a água salta para fora do copo é sinal que está a usar demasiada quantidade e pressão de ar para produzir som.

Exercícios de Respiração Parte III – Gestão do Ar

A III parte consiste na gestão do ar. Vamos perceber que em diferentes registos da nossa voz, necessitamos de quantidade e pressão de ar distinta para produzir som. Que muitas vezes temos que manter o diafragma suspenso por uns segundos antes de executar uma determinada nota, ou que temos que relaxar imediatamente a musculatura para produzir o som desejado.

Exercício 1 – Pressão do ar distinta

» Vamos colocar uma mão na parede abdominal só para sentir o movimento e na expiração iremos produzir 3 sons distintos: ‘Chhh’ , ‘Tsss’ e ‘Ffff’.

» Soltamos o ar num ritmo constante e com sons curtos, até sentirmos que não conseguimos obter mais movimento da parede abdominal e aí inspiramos novamente.

» Repita três vezes.

Dica: Utilize o metrónomo para manter o ritmo a uma velocidade mais ou menos de 120 BPM para produzir sons de pequena duração. Executa o exercício com uma só expiração.

Exercício 2 – Suspensão

» Chamo a este exercício 4-5-8, porque utilizo contagens para o realizar. Com o metrónomo para poder contar, coloque à velocidade de 80/85 BPM e com 1 tempo.

» Inspire em 4 tempos pelo nariz, aguente o ar lá dentro 5 tempos e expire a soprar com intensidade em 8 tempos.

» Repita três vezes de forma cíclica.

» Assim que tiver mais há vontade com este exercício, faça a expiração com o som ‘Tssssss’.

Exercício 3 – Suspensão ativando intercostais e libertando articuladores

» Com as mesmas contagens do exercício anterior. Inspire em 4 tempos pelo nariz e ao mesmo tempo levante os braços formando com eles uma linha reta com os ombros.  Irá sentir o movimento dos intercostais.

»Aguente o ar lá dentro durante 5 tempos.

» Expire pela boca com um ‘Háááá’ surdo. Ao mesmo tempo que expira deixe cair o queixo para baixo, abrindo a boca e relaxando toda a cavidade oral (boca).

» Mantenha os braços na mesma posição e execute o exercício três vezes de forma cíclica. Na última vez baixe os braços lentamente durante a expiração.

» Volte a executar todo o exercício mas agora, na expiração, solte um ‘Háááá’ audível e relaxado. Execute este também, três vezes de forma cíclica.

Dica: É sempre benéfico fazer alguns exercícios de relaxamento antes de fazer exercícios de respiração. Tenha também atenção à sua postura sempre 😉