Voz, o único instrumento que produz palavras!

A voz é o único instrumento musical que produz palavras. Antes de mais a voz permite-nos comunicar  emoções de uma forma que os outros instrumentos musicais não conseguem.

Articulação no canto, a importância da fala, blog tudo sobre canto de Sónia André
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Muitas vezes no canto sobrepomos a qualidade das notas que estamos a dar à claridade das palavras. Tecnicamente temos que nos adaptar a esta nova realidade que é articular as palavras com uma gama de sons bem mais extensa do que a da fala.

“Obviously we want the sound we make to be beautiful and strong, but a song also has a lyrical content that adds greatly to the overall experience. Making beautiful sounds that no one can understand can seriously lessen the impact of the performance.”

The Zen of Singing by Karen Gallinger

Na fala a articulação é muito importante na obtenção de claridade e eficácia do que estamos a comunicar. Mas na fala utilizamos basicamente um só registo da nossa voz (registo de peito), enquanto que a cantar dizemos as mesmas palavras em três registos (voz de peito, voz de média e voz de cabeça). Logo, temos que usar os músculos intervenientes na articulação de outra forma para podermos produzir um som bonito e palavras com claridade.

Algumas dicas no que diz respeito à articulação no Canto:

Dica 1:  Com ditongos (conjuntos de duas vogais como au, ei, ai, ou), devemos prolongar a primeira vogal. Por exemplo em na palavra ‘sai’ – deve-se cantar “saaaaa-i”. Outro exemplo “procurei” – canta-se “procureeeee-i”.

Também acontece o mesmo com outras línguas, por exemplo com o inglês, a palavra “night” canta-se “naaaah – et”.

Dica 2: Evite juntar uma vogal extra às palavras como em “de água”, fazer por exemplo “de-i-água”. Numa frase quando estão duas palavras com duas vogais seguidas é comum cometer este erro até na fala.

Dica 3: As consoantes devem ser executadas rapidamente, elas são consequência da agilidade dos músculos articuladores, e em português contém muitas vezes uma vogal associada fechada, como o “ê”. Por exemplo dizemos (pronunciamos) “dê”, “pê”, “cê”, quando nos queremos referir às consoantes “d,p e c”.

Alguns autores defendem que devemos cantar como falamos, interpreto sempre isto no sentido da claridade e facilidade com que falamos. Pois como já referi aqui no canto utilizamos uma gama de sons muito mais vasta do que na fala e os sons são prolongados (suster sons).

No entanto muitos dos defeitos que possuímos na fala em termos de articulação se refletem no Canto, como a falta de apoio (utilizar o ar para produzir som), a ineficácia em colocar e obter um som rico de harmónicos (ressonância).

Muitos dos meus alunos quando começam a praticar vocalizos diariamente para Canto, notam uma diferença considerável também na fala, como, mais claridade e facilidade e menos cansaço após um dia inteiro a comunicar.

Considero que devemos também fazer exercícios para a fala especificamente, muitas vezes a estudar Canto descuidamos esta parte. Devemos pensar que a articulação é uma área que une o canto à fala em muitos pontos e que ao trabalhar a fala também estamos a trabalhar o canto.

“In 2008 the University of Sheffield conducted a study in the UK to identify the formula for “the perfect voice”, based on the combination of tone, speed, frequency, words per minute and intonation. The study found that such a pleasing-to-listen-to voice should utter no more than 164 words per minute and pause for 0.48 seconds between sentences, wich should not be rising in intonation.”

This is a voice by Jeremy Fisher & Gillyanne Kayes

O repertório operático é cantado em várias línguas como alemão, francês e italiano para além do inglês.

Isto exige o estudo das particularidades de cada língua para uma excelente pronunciação das palavras no canto.

 “How many singers there are who seem to turn all their attention to the production of beautiful sounds and neglect in most cases the words that often are equally beautiful, or should be!”

Caruso, Enrico – Caruso and Tetrazzini on the Art of Singing. Printed in France by Amazon. Brétigny-sur-Orge, FR. ISBN9781511730747

A língua italiana é considerada uma “língua cantável”, porque é rica em vogais e ditongos. Assim conseguimos uma gama extraordinária de cores e tonalidades. Já o francês é considerado difícil pelos seus sons nasais, mas bom para trabalhar a ressonância nasal. Considero o alemão uma língua extremamente difícil de cantar pela quantidade de consoantes presentes numa palavra exigindo muita agilidade dos órgãos articuladores. O inglês possui o som “Th” como em “Thank You” que é extremamente difícil de pronunciar.

Como vemos cantar em outras línguas pode ser excelente para melhorar a sua articulação pois pode ser um estímulo diferente para todos os mecanismos vocais, tendo em conta que não estamos a cantar na língua mãe.

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