Existem alguns ‘defeitos’, problemas que são comuns na voz. Defeitos entre aspas porque resultam da falta de conhecimento e má utilização da voz.
Estes problemas na voz são e foram estudados no sentido de serem ultrapassados e daí nasceu a técnica vocal.
Voz Branca
A “voz branca”, é considerado um defeito vocal, o que é?
É quando a voz de cabeça sai sem cor, porque não está devidamente apoiada e o mecanismo vocal não está a funcionar como deveria. É uma voz sem força, sem corpo. Com força não quero dizer volume, mas sim harmónicos.
Esta voz também resulta de uma pressão de ar deficitária e excesso de ar. A pressão do ar e a quantidade não são diretamente proporcionais. Já referi que nas notas graves temos muito ar e pouca pressão e nos agudos pouco ar e muita pressão.
“The (voce bianca) is a head voice without deep support and consequently without colour; hence its appellation. One can learn to avoid it practicing with the mouth closed and by taking care to breathe through the nose, which forces the respiration to descend to the abdomen.”
Voz de Garganta
A voz de garganta resulta de não relaxar suficientemente esta zona. A garganta deve ser um local de passagem para o som. Estando tensa, irá anular uma grande parte do ‘trabalho’ realizado na laringe. Desta tensão resulta, uma articulação deficitária e dificuldade em colocar corretamente o som, ou seja, um som gritado!
“The (throaty) voice come from singing with the throat insufficiently opened, so that the breath does not pass easily through the nose and head cavities and, again, from not attacking the tone deeply enough.”
Voz Nasal
A voz nasal, é outro dos defeitos que se pode encontrar com frequência nos cantores e muito difícil de dominar. Segundo o autor abaixo isto acontece devido à memória do som. Existem línguas mais nasais como o francês, pode ser um hábito, esse tipo de produção de som.
“Once your voice becomes nasal, for whatever reason, it may get stuck in that nasal place. Why? One prominent reason is “sound memory”. Your brain remembers what you sound like every day, and it’s constantly reassessing what the qualities of “you” are. It hears the sounds you make and tries to duplicate them the next time you speak.”
Penso que é importante perceber como produzimos os sons nasais e depois comparar com os sons orais. A consciência física do que acontece quando produzimos um e outro som irá permitir-lhe com alguns exercícios criar novos hábitos de produção de som. Na fala e no canto irão existir sempre sons nasais, o importante é só produzir estes sons quando é a sua vez.
“Fortunately, you can use the same sound memory to help lead you out of the problem. Practicing new ways of making sounds not only teaches you how to do and it also tells the brain, repeatedly, this is how I sound. This is the voice I want, and when I get off track, this is the way to get back.”
Voz de ‘Cabra’
A voz de ‘cabra‘ pode resultar da tentativa de fazer à força um vibrato. Digamos que o som fica ondulado por movimento dos articuladores e tensão na laringe. Este tipo de voz é alarmante para mim, porque toda a técnica vocal está comprometida.
A solução passa pelo repouso total da voz, aprender as técnicas de respiração para cantores sem som, cultivar muito bem isto para ter um pilar muito forte.
Os exercícios com som devem ser com boca fechada, sentindo a ressonância e relaxando todo o aparato vocal. Isto irá anular a necessidade de criar muito volume, um hábito recorrente nas vozes tremidas.
No entanto, os exercícios de boca fechada para cantores que tem tendência em fechar a garganta podem não ser benéficos.
“The bleat” or goat, a particular fault of French singers, proceeds from the habit of forcing the voice, which, when it is of small volume, cannot stand the consequent fatigue of the larynx. ”
Voz Rouca /Suja
Um dos autores do livro que referencio muitas vezes, chama a isto “The sound of gravel”, o som da gravilha. Parece que a voz quebra um pouco e fica rouca. Há pessoas que começam a frase com um som limpo e depois aparece esta caraterística.
Este som está ligado à não utilização de ar para fazer as cordas vocais vibrarem. Logo, sem essa energia vital, as cordas vocais e os músculos da laringe fazem todo o trabalho. Isto é bastante agressivo para as cordas vocais, causando infeções e ronquidão crónica.
Este defeito aparece mais na fala e quando a pessoa passa para o canto permanece principalmente no registo de peito e médio. A salvação é aprender a respirar!
“Many people are reluctant to breathe more. We have the sense of urgency about getting words out, making us press on instead of pausing to refuel. But there’s an acceptable middle ground, somewhere between panting and talking till we’re blue in the face and gasping for air.”
Voz Sussurrada
Esta voz é recorrente, nos vídeos de instrução de meditação. Percebo que a intensão é acalmar e ter uma voz que convida. Mas quando produzimos uma voz com muito ar, estamos a massacrar as cordas vocais e a laringe, da mesma forma que se estivéssemos a gritar.
Ao produzir este tipo de som está a evitar que as cordas vocais vibrem, se estendam, e consequentemente a impedir que as cartilagens e músculos da laringe façam o seu trabalho.
Recorrer a esta voz como recurso estilístico a cantar pode ser interessante, mas deve conseguir assim que quiser, sair deste som respirado.
“I’d like you to keep in mind that while you may find a breathy voice inviting, the lower or mystic who’s flirting with laryngitis is less than appealing, and laryngitis is definitely on the menu if you don’t find alternatives to this way of speaking. You think breathy is the only way to sound sexy, approachable, gentle, romantic? That’s just not the case. A healthy voice that has command of all the sound possibilities will eventually be more than enough to seduce anyone.”
Uma breve estória: uma altura interessei-me por praticar Yoga. Como estava a praticar com vídeos on-line, percebi uma semelhança na voz de todos os professores, uma voz sussurrada. As vozes eram tão sussurradas que tinha dificuldade em perceber as orientações. Como tal procurava outras aulas. Assim que ouvi uma voz com brilho e natural, comprei essas aulas porque entendia as direções enquanto fazia os movimentos, sem esforço para decifrar o que diziam.