“There is only one way to sing correctly, and that is to sing naturally, easily, comfortably.”
Caruso, Enrico – Caruso and Tetrazzini on the Art of Singing. Printed in France by Amazon. Brétigny-sur-Orge, FR. ISBN9781511730747
Quando inspiramos o ar passa pelas cordas vocais e estas encontram-se na posição aberta. Assim que ouvimos uma nota, os músculos e cartilagens da laringe estendem as cordas vocais na pressão certa para que, a coluna de ar criada pelo aparelho respiratório ao passar pelas cordas vocais, as faça vibrar, produzindo a nota musical que ouvimos anteriormente.
“I’m a stronger believer in the idea that the more you understand about what’s happening in your body as you speak and sing, the better you’ll sound.”
O aparelho vocal é constituído por inúmeros órgãos e grupos de músculos e nervos. Trata-se de um conjunto de mecanismos flexíveis que operam em harmonia.
A Laringe é um tubo cartilaginoso de forma irregular, que liga a faringe à traqueia e onde se situam as cordas vocais, esta tem a função de evitar a entrada de alimentos na via respiratória e a produção de som.
É importante no Canto percebermos onde se situam as cordas vocais e que a laringe se move pela ação de vários músculos. É um mecanismo flexível e tem que o ser, porque utilizamos os mesmos órgãos para várias funções.
Um bom exemplo disso é quando estamos a comer, muitos destes mecanismos que usamos para cantar assumem diferentes funções. Claro que isto tudo se aciona através do nosso cérebro e que não temos que pensar nisso.
A Cantar muitas vezes fazemos uma tensão na garganta e usamos a parte de trás da língua isto aciona partes do aparato vocal desnecessárias. Também ocorre com frequência a subida ou descida da laringe (visível através da maça de Adão, proeminência laríngea), este desequilíbrio faz com que as cartilagens responsáveis por estender as cordas vocais não se encontrem numa posição favorável para o fazer.
“The brain is the overall regulator of these systems: activating muscles, providing information via nerve pathways, and using both sensory and auditory feedback to control and monitor the functioning of the tree systems. Except in rare cases, all humans are capable of making both spoken and sung sounds.”
Muitas vezes não entendemos o porquê de se fazer tantos exercícios vocais para se dominar a voz. Digamos que se percebermos que estes músculos funcionam sem o comando consciente direto, ou seja, os órgãos internos simplesmente funcionam, como iremos desativar as ações que não interessam à produção do som!?
Assim sendo, devemos primeiro perceber como o som é produzido e porque certos músculos se acionam. De seguida estimulamos o funcionamento ideal desses mecanismos para Cantar através de exercícios vocais.
Podemos perceber a influência das emoções no aparelho vocal quando, por exemplo, a nossa voz fica mais grave ou mais aguda se estamos irritados. A mudança de volume e intensidade também é um reflexo das nossas emoções.
As emoções também influenciam a respiração e motivam a contração dos músculos da garganta, dos músculos do pescoço e a posição dos órgãos de articulação.
No fundo todos os movimentos se harmonizam para expressar uma determinada emoção.
” Excess psychological emotional stress can play a rule in tension, and singers may need to deal with there stress, finding the source and then reducing its level through meditation, relaxation, massage, prayer, counseling, medical treatment, etc., before seeing alleviation of there muscular tension and improvement in there singing.”
Vou começar por enomerar alguns músculos que tem envolvimento no Canto mas que nem sempre pensamos neles. Músculos que utilizamos também para outras funções.
» Os músculos do pescoço que nos permitem mover a cabeça.
» A parte de trás da língua contrai para cima contra o palato mole iniciando o ato de engolir.
» As cordas vocais estão na posição fechada e a epiglote baixa quando engolimos um alimento. Quando inspiramos a epiglote sobe e as cordas vocais abrem para deixar passar o ar para os pulmões.
» Os músculos do mecanismo de suporte de som, aparelho respiratório, sustemtam o ato de respirar.
» Os articuladores, orgão envolvidos na articulação de palavras, também estão envolvidos no ato de engolir e mastigar.
Estas afirmações e conclusões servem-nos para perceber que muitos dos orgão envolvidos na produção de som também são utilizados para outras funções. Assim esses movimentos estão registados na nossa memória e muitas vezes desencadeamos um processo sem ter bem consciência disso.
Mesmo depois de aprender a postura correta para cantar muitas vezes continuamos a ter tensão em alguns músculos da garganta, pescoço e ombros. A solução passa por tomarmos consciência que não necessitamos de ativar alguns músculos que usamos de forma inconsciente. Por exemplo, muitas vezes quando sentimos falta de ar no Canto ‘contorcemos’ um pouco, fazemos tensão nas costas, ombros, abdómen por forma a ir buscar um pouco de ar.
O relaxamento corporal durante a produção de som é essencial para cantar no topo das suas capacidades. Para isso devemos já ter adquirido uma excelente postura e capacidade de respirar de forma diafragmática. Agora aos exercícios para melhorar a postura e de respiração vamos aliar exercícios de relaxamento.
Algumas considerações iniciais dos exercícios de relaxamento:
» Ter em atenção a postura correta de pé e sentado já referida no artigo Postura no Canto.
» Nos exercícios aplicar uma respiração diafrágmatica – intercostal.
» Sempre que inspira, faça-o pelo nariz lentamente e na expiração sopre (realizar a expiração pela boca) sempre de forma lenta e intensa até termonar.
» O ato de inspirar ou expirar, nestes exercícios, está sempre aliado a um movimento. Deve estar bem consciente dos movimentos e respirações quando executa os exercícios.
Exercícios de Relaxamento
1 – Posição de pé, eleve os braços em direcção ao teto enquanto inspira lentamente. Nesta posição, suspender a respiração por uns segundos, direccionando o olhar para o teto sentindo a extensão de todos os músculos. De seguida vire as palmas das mãos para fora, olhe em frente e expire lentamente soprando baixando os braços em simultâneo. Repita 3 vezes.
2-Posição de pé, imagine que tem uma bola nas mãos, inspire pelo nariz lentamente. De seguida expire pela boca e inicie o movimento para pousar a bola no chão, fletindo os joelhos um pouco. Nesta posição dobrado inspire pelo nariz e depois ao expirar começe a elevar-se sentindo os elos da coluna a alinharem-se conforme volta à posição inicial.
3- Posição de pé, inspire pelo nariz lentamente. Ao expirar desça até ao chão, flita um pouco os joelhos se necessitar, até tocar com as pontas dos dedos no chão. Nesta posição deve estar a olhar para as suas pernas para que o pescoço fique relaxado.
A partir deste centro ‘caminhe’ com as suas mão para a sua direita e execute três respirações completas nesta posição. Depois desloque-se da mesma forma para a esquerda e execute mais três respirações.
Já no centro na expiração volte à posição inicial.
4 – Inspirar lentamente e levantar os ombros em direção às orelhas, suster a respiração por uns segundos e ao expirar baixar lentamente os ombros rodando ligeiramente para trás de forma a sentir as omoplatas a fazer um movimento ‘circular’. Repita três vezes.
5 – Junte as mãos atrás das costas como na ilustração abaixo, faça três ciclos completos de respiração e troque de lado.
6 – Rodar os ombros para a frente e para trás respirando calmamente.
7- Ao inspirar levante os braços para cima em direcção ao teto. Ao expirar junte as mãos pressionando as palmas uma contra a outra trazendo-as para o centro do peito. Repita o exercício três vezes.
8 – Junte as palmas das mãos em forma de oração atrás das costas no meio das omoplatas e faça três ciclos de respiração, Se não conseguir juntar as mãos desta forma, e só conseguir tocar ligeiramente as mãos, concentre-se em manter a coluna reta e faça o exercício na mesma, sem forçar.
9 – Sentado coloque uma mão na testa e faça força na cabeça contra a palma da mão e força na palma da mão contra a cabeça, forças opostas. A coluna deve estar reta. Faça três ciclos completos de respiração nesta posição. Irá sentir relaxamento quando terminar na parte de trás do pescoço.
10 – Este exercício é similar ao anterior, a única diferença é que vai colocar a mão direita na parte lateral direita da cabeça exercendo força oposta com a cabeça e a palma da mão. Faça três respirações completas de cada lado. Este exercício reforça e relaxa os músculos laterais do pescoço.
11 – Baixe a cabeça enquanto expira pelo nariz. Com o queixo junto ao peito realize três respirações completas.
12 – Realize o mesmo movimento do exercício anterior e assim que estiver com o queixo junto ao peito, desenhe meia lua para um dos lados, ficando com a cabeça como que pousada no ombro. Realize três respirações completas em cada lado.
Nas aulas de Canto muitas vezes reparo que tenho alunos com dificuldades distintas no que diz respeito à respiração.
Há pessoas que tem facilidade e consciência muscular de como respirar de forma diafragmática, para o abdómen. No entanto tem dificuldade em aplicar uma coluna de ar ao som que estão a produzir.
Outros tem facilidade em usar a expiração para criar som, mas no entanto a sua respiração é mais torácica do que diafragmática, logo aí reside a dificuldade em criar pressão de ar suficiente para suster as notas.
Assim sendo, divido o estudo da respiração em III partes.
Exercícios de Respiração Parte I – Memória Muscular
A I Parte, com exercícios de consciencialização do movimento dos músculos intervenientes. Estes são essenciais para perceber como mudar de uma respiração torácica para uma respiração diafragmática (no abdómen).
Exercício 1 – Movimento do diafragma
» Deitado numa superfície plana. Sinta o suporte dessa superfície em todo o corpo. Relaxe todos os músculos deixando o peso do seu corpo se apoiar plenamente nessa superfície.
» Sopre todo o ar lentamente e assim que sentir que não tem mais ar, inspire imediatamente pelo nariz de forma lenta e relaxada. Sinta o ar a entrar no seu corpo.
» Coloque as mãos, uma abaixo da linha do peito e a outra logo de seguida cobrindo a parede abdominal. A ideia é sentir a respiração debaixo das suas mãos. Ao inspirar vai sentir a expansão desses músculos e ao expirar o movimento inverso e assim adquirir memória muscular.
Dica: Pode colocar um livro (não muito pesado 😉 ) e observar a subida e descida da parede abdominal enquanto vê a sua série favorita.
Exercício 2 – Movimento dos intercostais
» Sentado com os pés bem apoiados no chão (as pernas em forma de L), coloque as mãos abaixo da linha do peito na lateral, por cima da parte superior das suas costelas (para ter perceção do movimento dos intercostais).
» Vamos agora expirar pela boca e durante a expiração, inclinar o tronco para a a frente, num ângulo de 60º.
» Nesta posição, assim que ficarmos sem ar, inspiramos lentamente pelo nariz. Este exercício permite sentir de forma mais ampla o movimento dos intercostais.
» Na mesma posição executamos mais dois ciclos respiratórios, ou seja, expiramos pela boca e inspiramos pelo nariz.
» Da terceira vez na expiração voltamos à posição inicial de um ângulo de 90º na cadeira.
Exercício 3 – Controle da pressão do ar
» De pé sopre com pressão todo o ar como se fosse encher aquela boia de praia 😉 .
» Logo que sentir um vácuo na zona abdominal inspire pelo nariz lentamente até encher completamente os seus pulmões.
» De seguida expire com as consoantes ‘Tsssssss’ como se da própria boia de praia a esvaziar se trata-se.
» Deve criar uma pressão de ar constante até acabar todo o ar e logo de seguida não se esqueça de inspirar pelo nariz.
Dica: Deve cronometrar para perceber quantos segundos consegue expirar com uma pressão de ar constante.
Exercícios de Respiração Parte II – Usar o Ar para produzir som
A II parte consiste na utilização unicamente do ar para cantar, daí me ter referido à respiração no Canto como a ‘Fonte de Energia’.
Exercício 1 – Ativar ‘diafragma’
» Expire todo o ar pela boca, a soprar, até sentir que a sua parede abdominal colou às costas. Logo de seguida inspire pelo nariz de forma lenta e prolongada.
» Solte o ar em pequenos golpes como som ‘Tsss’ ou ‘Chhh’ (como em chave).
» Deve colocar as mãos sobre a parede abdominal para sentir o movimento do diafragma.
Dica: pode utilizar o metrónomo a uma velocidade confortável para soltar o ar a tempo.
Exercício 2 – Aplicar o ar à fonação
» A preparação para iniciar cada exercício é sempre igual, ou seja, expirar todo o ar pela boca (a soprar) e inspirar logo de seguida pelo nariz.
» Pense no som mais agudo que acha que consegue produzir, sim corra riscos :), e de seguida solte todo o ar com ‘Brrrrrrrrrr’ vibração de lábios.
» Vai descer na escala de forma natural da nota mais aguda para a mais grave que consegue com este som.
» Repita umas 3 a 5 vezes no máximo.
Dica: Repare que está a produzir uma vogal a par dessa vibração, um (ê) se quiser.
Exercício 3 – Gerir a pressão do ar
» Para este exercício iremos necessitar de um copo de água meio cheio e uma palhinha.
» Comece por soprar pela palhinha dentro do copo de água. A intenção é manter uma constante produção de bolhas que emergem da água. Inspire sempre que precisar.
» Agora murmure com (‘Mmmm’ ou ‘Hum’) pela palhinha. Mantenha uma suave corrente de ar. O objetivo é conseguir produzir som e bolhas a emergir da água de forma constante sem sair água do copo.
Dica: Se a água salta para fora do copo é sinal que está a usar demasiada quantidade e pressão de ar para produzir som.
Exercícios de Respiração Parte III – Gestão do Ar
A III parte consiste na gestão do ar. Vamos perceber que em diferentes registos da nossa voz, necessitamos de quantidade e pressão de ar distinta para produzir som. Que muitas vezes temos que manter o diafragma suspenso por uns segundos antes de executar uma determinada nota, ou que temos que relaxar imediatamente a musculatura para produzir o som desejado.
Exercício 1 – Pressão do ar distinta
» Vamos colocar uma mão na parede abdominal só para sentir o movimento e na expiração iremos produzir 3 sons distintos: ‘Chhh’ , ‘Tsss’ e ‘Ffff’.
» Soltamos o ar num ritmo constante e com sons curtos, até sentirmos que não conseguimos obter mais movimento da parede abdominal e aí inspiramos novamente.
» Repita três vezes.
Dica: Utilize o metrónomo para manter o ritmo a uma velocidade mais ou menos de 120 BPM para produzir sons de pequena duração. Executa o exercício com uma só expiração.
Exercício 2 – Suspensão
» Chamo a este exercício 4-5-8, porque utilizo contagens para o realizar. Com o metrónomo para poder contar, coloque à velocidade de 80/85 BPM e com 1 tempo.
» Inspire em 4 tempos pelo nariz, aguente o ar lá dentro 5 tempos e expire a soprar com intensidade em 8 tempos.
» Repita três vezes de forma cíclica.
» Assim que tiver mais há vontade com este exercício, faça a expiração com o som ‘Tssssss’.
Exercício 3 – Suspensão ativando intercostais e libertando articuladores
» Com as mesmas contagens do exercício anterior. Inspire em 4 tempos pelo nariz e ao mesmo tempo levante os braços formando com eles uma linha reta com os ombros. Irá sentir o movimento dos intercostais.
»Aguente o ar lá dentro durante 5 tempos.
» Expire pela boca com um ‘Háááá’ surdo. Ao mesmo tempo que expira deixe cair o queixo para baixo, abrindo a boca e relaxando toda a cavidade oral (boca).
» Mantenha os braços na mesma posição e execute o exercício três vezes de forma cíclica. Na última vez baixe os braços lentamente durante a expiração.
» Volte a executar todo o exercício mas agora, na expiração, solte um ‘Háááá’ audível e relaxado. Execute este também, três vezes de forma cíclica.
Dica: É sempre benéfico fazer alguns exercícios de relaxamento antes de fazer exercícios de respiração. Tenha também atenção à sua postura sempre 😉
O apoio no Canto consiste na gestão eficiente do ar.
“Apoio, portanto, é o controlo elástico e consciente da força retrátil passiva e espontânea do movimento de elevação do diafragma ao promover a expiração, e é conseguido pelo domínio dos seus antagônicos – os músculos abdominais e intercostais – com a finalidade de manter o equilíbrio da coluna de ar e aplicá-la à fonação.”
Esta gestão que falava à pouco é realizada pelos músculos intercostais e diafragma.
No último artigo ‘ Respiração no Canto’ encontras esclarecimento sobre os músculos utilizados na respiração diafragmática-intercostal.
“It is perfectly natural. I breath low down in the diaphragm, not as some do, high up in upper part of the chest. I always hold some breath in reserve for the crescendos, employing only what is absolutely necessary, and I renew the breath wherever it is easiest.”
Caruso, Enrico – Caruso and Tetrazzini on the Art of Singing. Printed in France by Amazon. Brétigny-sur-Orge, FR. ISBN9781511730747
Tetrazzini faz referência a esta gestão do ar necessária dizendo que reserva algum ar para os crescendos. Cada canção, obra tem as suas exigências respiratórias. Nem todas as canções tem o mesmo ritmo, a mesma dinâmica a mesma métrica. Todas estas situações são desafios quando pensamos na melhor forma de ‘respirar’ em cada canção.
Daí a necessidade de analisar a canção. Primeiramente penso ser benéfico perceber o ritmo da canção, o seu compasso, a sua velocidade. Depois perceber a métrica das palavras relacionada claro com a melodia que lhe está associada, a sua dinâmica (se sobe, se desce e como). O volume também faz parte da equação, no fortíssimo e pianíssimo a quantidade e pressão de ar é diferente.
Estes desafios sempre que temos que interpretar uma nova canção são reveladores das dificuldades respiratórias que temos no Canto.
Primeiro devemos aprender a técnica respiratória de forma a que haja memória muscular para suportar a voz cantada. Deve-se realizar exercícios respiratórios no início para adquirir a perceção do movimento do diafragma e intercostais (sentir a expansão destes músculos). Para passarmos da respiração ‘torácica’ para a respiração ‘diafragmática – intercostal.
Na respiração torácica o nosso peito aumenta de volume e elevamos os ombros. Esta respiração não é benéfica para o Canto. Pois aqui, não estamos a usar o potencial do diafragma e dos intercostais para criar pressão de ar necessária à vibração das cordas vocais.
No próximo artigo do blog irei partilhar mais exercícios de respiração para trabalhar áreas específicas da técnica vocal. Subscreva a newsletter para não perder!