Articular consoantes de forma clara permite aos ouvintes uma melhor perceção do que estamos a comunicar. Prolonga-las dá-lhes um som mais suave.
“Numa dispensa houve um rato
Que só manteiga comia,
Uma pancinha criara
Que nem Lutero o vencia.
A cozinheira veneno
No buraco lhe foi pôr,
Em tais apertos se viu
Como quem arde de amor.
Como quem arde de amor!
Dentro e fora corre doido.
Infinda água bebia,
A casa toda roendo,
Não mitigava a agonia;
Dava pulos desesp’rados,
Tanto o apertava a dor,
De cansaço está rendido
Como quem arde de amor.
Como quem arde de amor!
Afinal agoniado
Aparece à luz do dia,
Na cozinha anda a correr
E no lar já s’estendia.
Estrebuchava o coitado,
E vendo-o no estertor,
Ria a cozinheira. O pobre
Expirou como de amor.
Expirou como de amor!”
Goethe, J. Wolfgang Von. Tradução: Relógio d’Água, Editores. 2004, MEDIASAT GROUP, S.A. ISBN: 84-9789-753-6
Exercício 1 – Leia o trecho frisando as consoantes oclusivas (b); (p); (d); (t); (g); (c – cá); (q);
Exercício 2 – Repetir o exercício 1 mas mais rápido.
Exercício 3 – Prolongar as consoantes fricativas (f); (s); (v); (z); (j);
Obs.: As consoantes fricativas utilizam muito ar por isso lembre-se sempre de inspirar sempre que precisa.
Exercício 4 – Repetir exercício 3 mas mais rápido prolongando na mesma as consoantes fricativas.
Exercício 5 – Varie velocidades e frisando as consoantes vozeadas e não vozeadas e prologando as fricativas.
Para falar com claridade necessitamos de utilizar um pouco mais de espaço na boca. Os próximos exercícios servem para criar espaço na articulação das palavras.
Exercício 1 – Coloque uma escova de dentes pousada nos molares inferiores (só de um lado e depois troque de lado) e leia o parágrafo o mais claramente possível.
“Entre todos avultava em robustez e grandeza de membros o Lidador, cujas barbas brancas lhe ondeavam, como frocos de neve, sobre o peitoral da cota de armas, e o terrível Lourenço Viegas, a quem, pelos espantosos golpes da sua espada, chamavam o Espadeiro.”
Herculano, Alexandre. Selecção de Lendas e Narrativas. 2004, MEDIASAT GROUP, S.A. ISBN: 84-9789-747-1
Exercício 2 – Retire a escova e volte a ler o parágrafo agora com a consciência que utiliza mais espaço para pronunciar as palavras e que está a utilizar melhor o movimento da língua e dos lábios.
Todos nós já conhecemos uma pessoa monocórdica, e é sempre uma dificuldade mantermo-nos atentos e acordados. Os próximos exercícios são para trabalhar a gama de sons que utiliza na fala. Todos nós temos um padrão melódico que utilizamos a pronunciar algumas frases. Ao estudarmos diferentes esquemas melódicos para a voz falada conseguimos reter a atenção do ouvinte.
Frases do dia a dia:
“Um café e um copo de água por favor!”
“Desculpa o atraso, perdi o comboio!”
“O meu gato desapareceu há quatro dias!”
Exercício 1 – Diga as frases como normalmente as diria. De seguida repita a frase com os lábios fechados irá produzir um murmúrio (Mmm; mmm; mmm). Esse murmúrio irá seguir o esquema melódico que já estaria a fazer quando leu a frase normalmente, só que agora irá tomar consciência dele.
Exercício 2 – Agora repita as frases com Mmm, mas exagerando nos agudos e graves que já tomou consciência que produz.
Exercício 3 – Agora leia novamente as frases também exagerando um pouco mais os agudos e graves que estava a produzir.
A entoação pode indicar o que uma pessoa está a sentir. Vamos utilizar a frase “Foste às compras…” para utilizar diferentes entoações ou diferentes esquemas melódicos, pois estes irão atribuir diferentes sentidos à mesma frase.
Exercício 1 – Leia as frases abaixo, as alturas e contextos das palavras indicam a sua entoação. Utilize mais agudos sempre que encontrar maiúsculas:
1.1 – Contexto: como esqueci-me de ir;
“Foste às compras? “
1.2 – Contexto: nunca vais sem te pedir ☹ ;
“Foste ÀS Compras!”
1.3 – Contexto: não temos nada em casa;
“FOSTE às COMPRAS?”
“A entoação pode ser definida como a forma de associação dos acentos de palavra numa sequência que é a frase. Poderíamos assim falar de acento de palavra e acento de frase. No entanto, aqui é que se podem colocar as questões fundamentais relativas à entoação: qual a relação do acento de palavra ao acento de frase? Ou será a entoação que determina o acento da palavra na frase? Podemos ainda pôr a questão de saber a que nível se organiza a entoação? Será no nível fonético, fonológico, sintáctico ou semântico? Como se manifesta e se sistematiza a expressividade, através da entoação: expressão irónica, zangada, afectuosa… questões que não obtêm uma resposta única.”
Martins, Maria Raquel Delgado. Ouvir Falar – Introdução à Fonética do Português, Edições Caminho.
Exercício 1 – Leia as seguintes frases enfatizando e levantando o tom da última palavra.
“Foi o que ele FEZ”
“Tudo BEM”
“Tu és meu AMIGO”
Exercício 2 – Repita novamente as frases, mas agora com a mão direita expresse essa elevação de tom com a mão também.
“Entoação – utilização de tipos de tons recorrentes, cada um dos quais com um conjunto relativamente consistente de significados, quer em palavras isoladas, quer em grupos de palavras de dimensões variadas. A organização entoacional destes tipos de tons está directamente relacionada com a proeminência relativa pela qual se encontram estruturados ritmicamente. A entoação pode ainda ser entendida como um traço tonal que se refere à presença de um acento nuclear.”
Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional, Dicionário de Termos Linguísticos, vol. 1, Edições Cosmos
Exercício 3 – Com as mesmas frases vamos descer de tom na última silaba.
“FOI O QUE ELE fez”
“TUDO Bem”
“TU ÉS MEU AMIgo”
Exercício 4 – Repita as frases novamente mas eleva as sílabas do centro da frase:
“foi O QUE ELE fez”
“tudO Bem”
“tu ÉS MEU amigo”
Ter perceção do movimento do palato é essencial para produzir sons nasais como (m); (n) ou em vogais acentuadas como (pão; avião;…). Para produzirmos estes sons não podemos ter o palato na posição fechada. Exercícios para realizar de forma eficaz os sons nasais.
Exercício 1 – Diga um sonante (a) aberto e prolongado. Aqui o palato estará na posição fechada.
Exercício 2 – Agora diga a palavra (pão) de forma prolongada, ou seja, pãaaaaaaaaao. Como esta palavra é nasal, irá tomar consciência da alteração no palato mole e mudança de som.
Exercício 3 – Agora aperte o nariz e faça em alternado o som (aaa) e o som (ãaaaao). Quando utiliza o som nasal irá perceber uma vibração no seu nariz.
Exercícios para evitar falar ‘pelo nariz’ como costumamos dizer de forma comum.
As consoantes (q – que) (g) são realizadas com o palato fechado, logo iremos trabalhar a eliminação dos sons nasais com estas consoantes.
Exercício 1 – Faça o som (q) surdo, faça como se estivesse a sussurrar de forma curta. Sinta como se abafa lá trás na garganta.
» q ; q; q; q; q; …
Exercício 2 – Agora aperte o nariz e repita o exercício. Se não sentir vibração no nariz está a fazer da forma correta, ou seja, o som não consegue viajar para a cavidade nasal porque essa porta está fechada (o palato está a tapar a entrada do som na cavidade nasal.
Exercício 3 – Faça o som (ga) com a vogal fechada, repare que executa o (g) na mesma zona que (q) mas agora irá ter som. Repita várias vezes. Tape o nariz, e não deve sentir vibração.
» ga; ga; ga; ga; ga; …
Exercício 4 – A tapar o nariz leia a frase “Vai dar comida ao gato!” repare que o nariz só vibra com o (m) que é a única consoante nasal da frase.
Vamos agora trabalhar um dos principais órgãos a dominar no Canto e Fala, a língua. Para tal utilizamos uma série de trava línguas, expressão usada para frases difíceis de pronunciar.
“Copo copo geri, copo geri copo, copo cá se não disseres três vezes copo, copo geri copo geri copo, copo cá por este copo não beberás.”
“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tem.”
“Três tristes tigres.”
“O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia.”
“Se o Faria batesse no Faria, o que faria o faria ao Faria?”
“Se percebeste diz que percebeste, se não percebeste diz que percebeste para que os outros percebam que percebeste, percebeste?”
“Aranha arranha a Rã. A Rã arranha a Aranha. Nem Aranha arranha a Rã nem a Rã arranha a Aranha.”
Recolha por aluna de canto Marta Silva a 06 de julho de 2024.
“Dei com um ninho de mafagavos com cinco mafagafinhos, a mafagafa fugiu morreram os cinco mafagafinhos.”
“As tábuas do meu quarto estão encudrucubilhadas vou chamar o encudrucubilhador para as encudrucubilhar melhor.”
Recolha por aluna de canto Beatriz Madeira com a sua avó Margarida Lopes a 05 de julho de 2024.
“O sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar.”
“Farofa feita com muita farinha fofa faz uma fofoca feia.”
Recolha do aluno de canto Marcelo Pires do Brasil, com o seu pai a 23 de maio de 2024.
Cada frase e palavra tem um padrão rítmico, vamos fazer um exercício que permite dominar melhor esse esquema rítmico e consequentemente melhorar a pronuncia.
Exercício 1 – Diga em voz alta Um, Dois, Três, Quatro.
1.1 – Repita, mas com (e) no meio: Um e Dois e Três e Quatro e;
1.2 – Agora Um, Dois e Três e Quatro e;
1.3 – Enfatizar o UM, dois e TRÊS e quatro e;
1.4 – Exemplo de frase com este esquema rítmico: “TRÊS, tristes TIgres.”
Exercício 2 – Descubra um esquema rítmico que se adapte às outras ‘trava línguas’ apresentados, e comece com tempos lentos e depois acelere.
Referências Bibliográficas para este artigo:
Delgado-Martins, Maria Raquel (1988) Ouvir falar: Introdução à Fonética do Português. Lisboa: Caminho.
Delgado-Martins, Maria Raquel (1973) Análise acústica das vogais tónicas do português. In Delgado Martins (2002) Fonética do Português. Trinta anos de investigação. Lisboa: Editorial Caminho
Maria Raquel Delgado Martins, Ouvir Falar – Introdução à Fonética do Português, Edições Caminho.